domingo, 23 de novembro de 2025

Segredos Vegetais, Dércio Marques - Música e ecologia!

 


Quando coloco para tocar Segredos Vegetais, a sensação é a de adentrar um jardim de sonhos. É um disco que me sussurra no ouvido: “escute com calma, observe a vida crescendo”. Dércio Marques, com sua voz suave de violeiro e seu violão que respira como vento, nos convida para uma viagem por paisagens sonoras onde a natureza não é apenas tema, mas personagem viva.

Já na abertura, “Tema da Flor da Noite [Segredos]”, ele pinta uma flor oculta na sombra, um mistério que floresce somente à luz íntima da escuta. É quase como se estivéssemos caminhando por um bosque onde cada planta tem algo a nos contar — segredos vegetais, exatamente como o título promete.

A partir dali, o álbum se desdobra em delicadas camadas acústicas. Há temas inspirados no milho (“Tema do Milho”, “Palhas de Milho”), outros que evocam flores e deuses da natureza (“Avati – Deus do Milho e das Flores”), passando também por melodias de ervas (“Tema das Ervas”) e cipós etéreos (“Umbela de Umbelas I e II”). Cada faixa é um pequeno mundo, e elas se entrelaçam como raízes subterrâneas.


O segundo disco aprofunda ainda mais essa imersão. Em “Segredos Vegetais II”, por exemplo, Dércio parece recitar poemas para as plantas, como se cada verso fosse uma folha palpitando ao vento. Já “Vôo Noturno” traz uma quietude quase suspensa, como o bater de asas invisíveis em uma noite silenciosa. Em “Concerto de Arames e Pássaros”, os arranjos se tornam mais arrojados, sugerindo que as cordas e os pássaros compartilham uma mesma partitura interior.

Mas o encanto de Segredos Vegetais vai além da música: é também uma reflexão sobre nossa relação com a natureza. Dércio Marques não canta só para as flores; ele escuta o que elas têm a nos ensinar — a dor, a ternura, o mistério de existir. Segundo estudos sobre sua obra, a temática ecológica está presente de forma profunda em seu trabalho, refletindo uma “preocupação social” com o mundo natural.


Há uma poesia que não é apenas lírica, mas quase filosófica: ele nos lembra que os vegetais têm histórias, que o silêncio deles não é vazio, e que quem cala, muitas vezes, sente mais. “Quem cala não consente / As flores sabem mais” — esse verso ecoa como um mantra ambiental, uma urgência doce de consciência. 

Musicalmente, o álbum mistura influências de folk, música latino-americana e até toques de música erudita popular, alinhando-se a uma produção quase “new age”, segundo descrições de críticos. Essa mistura gera uma textura sonora única: acústica, orgânica, mas ao mesmo tempo “espacial”, como se cada nota tivesse espaço para crescer como um galho em direção ao céu.

Para mim, Segredos Vegetais funciona como um diário íntimo — um registro de contemplação, respeito e admiração pela vida vegetal. É como se Dércio Marques tivesse me dado as chaves para um templo verde, onde cada acorde é uma pétala, cada voz, um sussurro das raízes.




Em resumo: esse é um disco para ouvir com os olhos fechados e o coração aberto, para sentir a respiração da natureza através da música. É delicado, profundo, ambiental — e acima de tudo, uma celebração daqueles “segredos vegetais” que só florescem quando prestamos atenção.


Você pode ouvir esse álbum maravilhoso nas plataformas de streaming e também as músicas individualmente no Youtube!






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