Controle agroecológico de pulgões (Aphididae) e cochonilhas (Coccoidea) em jardins e vasos
O controle agroecológico baseia-se na integração de medidas culturais, de monitoramento, bióticas (predadores/parasitoides), físicas e, quando necessário, produtos de baixo impacto (sabões, óleos hortícolas, neem). O objetivo é reduzir a população da praga abaixo do limiar de dano econômico/estético e preservar inimigos naturais, minimizando insumos químicos sintéticos.
Monitoramento
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Inspecione semanalmente: verifique a face inferior das folhas, gemas e rebentos. Procure presença de pulgões, ninfas de cochonilha, secreção açucarada (melada) e fumagina (fungo preto que indica povoamentos de sugadores). 
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Use métodos simples: lupa 10×, crachá amarelo (armadilhas adesivas para pragas voadoras/níveis de infestação), e registro fotográfico para acompanhar evolução. 
Quando intervir
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Em jardins ornamentais ou vasos a ação é recomendada quando houver: (a) manchas de melada/fumagina cobrindo folhas; (b) deformação visível de brotos; (c) presença numerosa de indivíduos (quando a população aumenta rapidamente) — em vasos pequenos, uma colônia localizada já costuma justificar ação. (Não existe um “número mágico” universal; avalie dano e tendência.) 
Medidas culturais e preventivas (prioridade)
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Evitar estresse hídrico e nutricional: plantas vigorosas toleram melhor ataque e permitem maior atividade de inimigos naturais. 
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Diversificar plantas: consorciar com flores e ervas que atraem predadores (ex.: flores umbelíferas atraem sírfidos e vespas parasitoides). 
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Remoção mecânica: poda de ramos muito infestados e eliminação de colônias grandes de cochonilha (retirar manualmente com cotonete embebido em álcool para cochonilhas isoladas). 
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Lavagem por jato de água: para pulgões em plantas robustas, jatos fortes de água removem grande parte das colônias sem uso de químicos.Essas medidas reduzem a pressão populacional e favorecem inimigos naturais.
Inimigos naturais recomendados (controle biológico)
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Joaninhas (Coccinellidae): devoram pulgões; eficazes em jardins e vasos quando há alimento disponível. 
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Lacewings (Chrysoperla spp.): predadores de ninfas de pulgões e pequenas cochonilhas. 
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Vespas parasitoides (ex.: Aphidius sp.): parasitam pulgões — recomendadas em áreas protegidas/estufas.Favorecer o habitat desses agentes (flores hospedeiras, abrigos, evitar sprays de amplo espectro).
Produtos de baixo impacto (receitas, indicações e evidências)
Os produtos a seguir são compatíveis com manejo agroecológico quando aplicados corretamente: sabões inseticidas, óleos hortícolas (ou óleo mineral/vegetal apropriado), extratos de nim (neem) e preparações fitoterápicas. Estudos e revisões mostram eficácia variável — bons resultados em controle de pulgões e estágios jovens de cochonilha, com limitações (curta persistência, necessidade de contato direto).
Atenção geral antes de aplicar
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Teste sempre numa folha pequena e espere 48–72 h por fitotoxicidade (algumas espécies sensíveis: cítricos jovens, begônias, certas fucsias). 
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Aplique no início da manhã ou ao entardecer (evitar sol forte e temperaturas altas). 
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Reaplicar conforme necessidade (intervalo 5–10 dias) até controle — porque esses materiais atuam por contato e têm baixa persistência. 
Insecticida de sabão (inseticida caseiro, solução de sabão potássico ou água + sabão neutro)
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Concentração efetiva: 1–2% (v/v) é o intervalo usual e seguro para a maioria das plantas. Isso equivale a 10–20 mL de sabão líquido/óleo de coco suave por litro de água (ou 10–20 g por litro se for sabão em barra dissolvido). 
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Modo de preparo: dissolver o sabão em água morna, esfriar, colocar em pulverizador e aplicar cobrindo bem a face inferior das folhas. 
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Efeito: age por contato, rompendo a camada cerosa e desidratando pulgões e ninfas de cochonilha jovens. Não controla ovos. Repetir 3 aplicações em intervalos de 5–7 dias. 
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Fonte/nota técnica: orientações de extensões e literatura técnica sobre sabões inseticidas corroboram 1–2% como faixa segura/eficaz. 
Óleo hortícola / óleo mineral (para cochonilhas e estágios de pulgões)
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Concentração: produtos comerciais indicam 1–3% (ver rótulo). Em uso caseiro, 1–2% (10–20 mL por litro) é comum para aplicações foliares em vasos. 
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Modo de ação: sufocamento (recobrimento do corpo do inseto), boa eficácia em ninfas/estágios móveis e em ovos jovens; menor efeito em cochonilhas muito encravadas ou protegidas. 
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Aplicação: cobrir completamente o inseto (face inferior), repetir conforme observado. Estudos mostram mortalidade substancial em cochonilhas jovens com óleos e sabões. 
Neem (Azadirachta indica) — extrato ou óleo
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Concentração prática doméstica: 0,25–0,5% v/v é uma boa referência para pulverização foliar (ou seja, 2.5–5 mL de óleo de neem por litro de água); algumas receitas práticas usam 3–8 mL/L. Sempre seguir instruções do produto comercial quando houver. 
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Como preparar: misture o óleo de neem com água morna + 1–2 mL (algumas gotas) de sabão líquido para emulsificar; agitar bem antes de aplicar. Aplicar ao entardecer ou manhã cedo. 
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Efeito: neem contém azadiractina e outros constituintes que atuam como antialimentares, inibidores de crescimento e têm efeito de contato/repelência. Revisões científicas mostram boa eficácia contra pulgões; eficácia contra cochonilhas varia com formulação e estágio do inseto. 
Combinações práticas (exemplo de pulverização para infestação moderada)
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Receita (1 L): 1 L água morna + 5 mL óleo de neem + 10 mL sabão líquido (≈1% soap + 0.5% neem). Agitar bem e pulverizar. Reaplicar após 7 dias se houver reinfestação. Testar antes em parte da planta. 
Outras preparações com respaldo técnico (receitas tradicionais)
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Embrapa e manuais de controle alternativo descrevem preparações à base de sabão, extratos de pimenta, álcool para cochonilhas localizadas, e decocções específicas — úteis como complemento, mas sempre testar fitotoxicidade. 
Táticas físicas e de intervenção local
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Cotonete com álcool (70%) — para cochonilhas isoladas (mealybugs/cochonilhas farinhentas): esfregar diretamente e remover. 
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Poda — retirar partes muito infestadas em vasos pequenos. 
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Cobertura de solo e limpeza — evitar queda de brotos infestados que possam reinfestar. 
Segurança e impactos não intencionais
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Sabões e óleos são menos tóxicos para mamíferos, mas podem afetar insetos benéficos que entrarem em contato direto com o spray. Portanto, evite pulverizar em flores com visitas de abelhas e aplique preferencialmente em horários de menor atividade de polinizadores. 
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Leia rótulos dos produtos comerciais (óleo, neem) e respeite recomendações; alguns óleos não são indicados em altas temperaturas. 
Fluxo de ação recomendado (passo a passo resumido)
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Monitorar semanalmente. 
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Ao detectar colônias iniciais: tentar lavagem por jato de água e retirada manual. 
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Se persistir: usar sabão 1–2% (aplicar cobrindo bem). Repetir 2–3 vezes em 5–7 dias. 
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Para infestações estabelecidas (cochonilha com melada/ fumagina): combinar poda, cotonete com álcool em colônias localizadas + aplicação de óleo hortícola (1–2%) em duas aplicações com 7–10 dias. 
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Estimular/introduzir inimigos naturais e evitar inseticidas de amplo espectro. 
Limitações e evidências
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Produtos biorracionais (sabões, óleos, neem) apresentam boa eficácia sobre estágios móveis e ninfas de pulgões e cochonilhas jovens, mas têm baixa persistência e exigem aplicação de contato e repetições. Evidências científicas e extensões descrevem mortalidades altas quando aplicados corretamente, porém variabilidade existe segundo formulação, espécie da praga e estágio. 
Referências e leituras recomendadas (links)
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FAO — Integrated Pest Management (princípios de IPM). Open Knowledge FAO 
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Pretty J. et al., Integrated Pest Management for Sustainable Intensification — revisão sobre integração de táticas e papel dos inimigos naturais. PMC 
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EMBRAPA — Preparados para controle de pragas / Controle alternativo (receitas tradicionais e orientações técnicas). Embrapa 
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Colorado State University Extension — Insect Control: Insecticidal Soap (propriedades, concentrações e cuidados; recomendações 1–2%). extension.colostate.edu 
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Quesada et al., ASHS HortTechnology (2017) — Efficacy of horticultural oil and insecticidal soap against scale insects (estudo mostrando mortalidade significativa em estágios jovens). ASHS 
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Campos EVR et al., Neem Oil and Crop Protection: From Now to the Future — revisão sobre neem: mecanismos, potencial e limitações. PMC 





 
 
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